O poder exerce atracção tão forte, que ofusca a razão; difundiu-se, durante largo tempo, o mito da «erótica do poder», como explicação para o universo de desvarios dos poderosos, e alucinações dos «pegadores» os que vivem à sombra dos opressores, convencidos que aqueles lhes dão importância, ridicularizando-se, sem se aperceberem da «triste figura» que fazem.
Não conhecemos «certos mesquinhos» tiranos com os fracos e escravos dos poderosos? Quantas vezes os opressores aliciam para seus verdugos os mesmos oprimidos? Será simplesmente questão de «mito» a sedução pelo poder e a servidão aos poderosos?
«Vi florir os verdes ramos, direitos e ao Céu voltados; e a quem gosta de ter amos, vi sempre os ombros curvados.» Estes «pequeninos» não adulam os poderosos por «fidelidade», estes «pobres diabos» sonham, no segredo das mentes alienadas, com desvairadas riquezas, com delirantes opulências, e, nesta fantasia, renegam tudo, renegando-se a si mesmos.
Porque os fenómenos quotidianos me interpelam, tenho, desde o alvor desta «democracia em declínio», detectado: comportamentos aviltantes; prejúrios de convicções; traições infames.
Reflectindo, estimulado por este tempo incerto, identifico as causas de tais indignidades, e os estratagemas dos corruptores; como devoram as prezas desejadas? Acompanham, seguem, analisam os corruptíveis; depois: adulações, elogios, aliciamentos, seduções fantásticas; a traição consuma-se, algumas vezes, com surpresa, outras com evidentes sinais que foram menosprezados.
Quando «probos historiadores» fizerem a história da «traição» nesta «decadente democracia», aparecerão, à luz do entendimento esclarecido, as motivações que compeliram tanto traidor. Se a vileza mancha a democracia, parece que o poder local é o mais afectado por esta pústula. Num país pouco amigo da cultura, dos valores, da ética, a aparência ganha raízes; a caciquização transforma-se em estratégia tolerada e aplaudida, sempre que sirva os interesses insaciáveis dos opressores.
Não nos afastemos, temos entre nós estes exemplos. Que desvairadas imaginações de fabulosas riquezas foram excitadas para criar este grupo de interesses que domina, hoje, este concelho? Mas a realidade desconstruiu estas fábulas; a crise acordou de longos sonhos e, mais por vaidade que por convicção, prolonga-se o espectáculo indecente: de festas frustradas, de ministros que «se perderam no caminho» e faltaram à prometida acção de propaganda, tão indecente que nem se coibia de agir na margem da legalidade, manipulando imagens das nossas crianças. Quando «os filhos do orçamento» temem perder as benesses do poder, venda-se: os Direitos Humanos; a Declaração dos Direitos da Criança... jogam-se favores, interesses, compromissos e, depois, os «tiranos mandadores» vêm pedir contas das derrotas; quem sabe se trazem chicote?! Pobre e triste democracia... sufocam-te:
«no gosto da cobiça e da rudeza, numa austera, apagada e vil tristeza»...
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